10 abril 2010

Quanto tempo...

O vento que toca o chão levanta uma neblina que não cessa de me estancar. Estancou-me, mas não as águas de meu rosto. Meu corpo treme com esse transbordar e minha face transborda a enxurrada desse vendaval. Que tempo frio esse! Esse tempo gélido... Temporal vil, viu? Não enxergo, pois o temporal que cai de meus olhos é mais rápido que o olho temporal. Quanto tempo o tempo tem? Quanta chuva deve passar pelo meu sobrado, pelo meu pobre rosto rico de tempo? Sobrou algo ao menos derramado? Quanta chuva deve passar pela minha lareira gélida para sanar a ferida do vendaval que por mim se alastrou? Plantou, plantou e não frutificou. O único calor que me queima é a geleira de meu peito esquerdo.
Derramada está minha semente e a carrasca ausente o vento a levou. O que é, então, o amor? Não sei, ainda não vi seu trapo de face, só um esboço de classe verão. Meu chão... O vento que a trouxe foi o mesmo vento que levou consigo o ar da paixão... E pra mim... E pra mim? Restou a tempestade da solidão. Quanto tempo esse vento tem? O vento, o fogo, o frio... O rosto. A face queimosa do gélido vento. A semente narcisa que ultrapassa seu tempo, preferiu ousar semear em outro espaço. Que então vá. Mas para nunca mais voltar. Quanto tempo durará esta minha decisão?
Quanto tempo o meu tempo tem? Será a resposta para minha insatisfação.

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