22 janeiro 2010

Dádiva

Tenho uma pedra que gostaria que fosse uma ave.

Planar pelo infinito e navegar pelos mares.

Mas ela é muito dura e não planaria por muito tempo.

E como não sabe nadar e pesa mais do que o ar,

Cairia no fundo do alento.

Perguntei a ela, então, se gostaria que eu a carregasse.

Levaria ela ao céu e nadaria com ela em outras faces.

Ensinaria como voar e como velejar por entre águas e molhares.

Ela me disse que não entendia o que eu estava a propor.

Pois não era ela que não sabia voar ou nadar,

Sou eu que não sei onde estou.

Pois tudo que existe tem seu trajeto,

Uns como folha outros como inseto.

Uns pra sonhar outros para fazer.

E assim como tudo, ela também fazia o seu dever.

Ensinava os apreçados a cair e os humildes a entender,

Que não é quão dura seja uma pedra

É sua bela forma de proceder.

E assim eu compreendi, que não é pena que devo ter,

É a certeza de que não é a forma do objeto,

Nem qual seja o seu trajeto,

Que irão influenciar em seu prazer.

É a consciência de sua dádiva,

E como aplicar isso em seu viver.

15 janeiro 2010

Egaiole-se em suas asas

Pense no pássaro que voa livremente pelos ares de sua razão animal; manobras claras de liberdade irracional, apreciando o que de mais belo tem na natureza. Pousa em seus descansos, desfruta de seus prazeres instintivos; alça vôos do ápice de sua vontade maquinal. Predador por necessidade e reprodutor oriundo; sua única vaidade: Seu canto.

Sem medo e sem limitações espaciais. Simplesmente um voador, planando no céu de seus devaneios reais, a mercê da fluidez do rio do tempo.

Agora imagine este mesmo ser sendo aprisionado, tolhido de suas intrínsecas necessidades. Não podendo mais gozar livremente de sua condição como ser vivo. Este que nascera com sua raiz já predestinada a uma certa prisão, acaba de ser decepada todas as chances de desfrutar do tempo restante que lhe compete como ser vivo e da liberdade condicionada que lhe cabe.

Agora se coloque no lugar deste ser. Ao menos tente sentir o ar de hostilidade que agora circunda sua vida. Isso é vida?

Não vivo como o pássaro – que fora capturado e engaiolado. Não me aprisiono e nem permito ser. Não que ele tenha culpa por ser capturado, afinal ele é irracional. Mas e nós, seres humanos, racionais, por que nos deixamos aprisionar por gaiolas sistêmicas? Não temos razão, moral, ética, dentre outros palavrórios que o homem inventou para classificar atitudes que deveriam ser tomadas e/ou que são tomadas? Acho que já existem muitas palavras e pouco uso prático e benéfico delas. Palavras o vento leva, atitudes o tempo registra. Alçarei vôos para não me coagirem a me engaiolar. Minha próxima parada? O céu já não é mais o limite. Não tenho paradas. A felicidade – dizia Margaret Lee Runbeck, e eu completo – assim como a liberdade não é uma estação a qual chegaremos e sim uma forma de viajar. Tente viajar, livremente, e não estagnar em uma estação.